quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

HOMENAGEM DO ROTARY CLUB CAMPINA GRANDE AO DIA MUNDIAL DO HANSENIANO - 27 DE JANEIRO

Lepra
HanseníaseClassificações e recursos externos
Um indivíduo do sexo masculino com 24 anos de idade que padecia de lepra.

Missionário leproso inglês Padre Damien

A lepra (hanseníase ou mal de Hansen), é uma doença infecciosa[1] causada pelo bacilo Mycobacterium leprae que afeta os nervos e a pele e que provoca danos severos. O nome hanseníase é devido ao descobridor do microrganismo causador da doença Gerhard Hansen.
Ela é endêmica em certos países tropicais, em particular na Ásia. O Brasil inclui-se entre os países de alta endemicidade de lepra no mundo. Isto significa que apresenta um coeficiente de prevalência médio superior a um caso por mil habitantes (MS, 1989)[2]. Os doentes são chamados leprosos, apesar de que este termo tenda a desaparecer com a diminuição do número de casos e dada a conotação pejorativa a ele associada.
História


O uso de sino era obrigatório para os leprosos na Idade Média

Desde que a escrita existe, tem-se registro de como a lepra representou uma ameaça, e os leprosos foram isolados da sociedade. No Egito antigo, há referências à lepra com mais de 3000 anos em hieróglifos (de 1350 AC). A Bíblia contém passagens fazendo referência à lepra, sem que se possa saber se se trata da doença: este termo foi utilizado para designar diversas doenças dermatológicas de origem e gravidade variáveis. A antiga lei israelita obrigava aos religiosos a saberem reconhecer a doença.
A lepra foi durante muito tempo incurável e muito mutiladora, forçando o isolamento dos pacientes em leprosários, principalmente na Europa na Idade Média, onde eram obrigados a carregar sinos para anunciar a sua presença. A lepra deu nessa altura origem a medidas de segregação, algumas vezes hereditárias, como no caso dos Cagots no sudoeste da França.
No Brasil existiram leis para que os portadores de lepra fossem "capturados" e obrigados a viver em leprosários a exemplo do Hospital do Pirapitingui (Hospital Dr. Francisco Ribeiro Arantes). A lei "compulsória" foi revogada em 1962, porém o retorno dos pacientes ao seu convívio social era extremamente dificultoso em razão da pobreza e isolamento social e familiar a que eles estavam submetidos.

Epidemiologia

Além do Homem, outros animais de que se têm notícia de serem suscetíveis à lepra são algumas espécies de macacos, coelhos, ratos e o tatu. Este último pode servir de reservatório e há casos comprovados no sul dos EUA de transmissão por ele. Contudo a maioria dos casos é de transmissão entre seres humanos.
A lepra ataca hoje em dia ainda mais de 11 milhões de pessoas em todo o mundo. Há 700.000 casos novos por ano no mundo. No entanto em países desenvolvidos é quase inexistente, por exemplo a França conta com apenas 250 casos declarados. Em 2000, 738.284 novos casos foram identificados (contra 640.000 em 1999). A OMS referência 91 países afetados: a Índia, a Birmânia, o Nepal totalizam 70% dos casos em 2000. Em 2002, 763.917 novos casos foram detectados: o Brasil, Madagáscar, Moçambique, a Tanzânia e o Nepal representam então 90% dos casos de lepra. Estima-se a 2 milhões o número de pessoas severamente mutiladas pela lepra em todo o mundo.

Transmissão

A lepra é transmitida pelo ar. O bacilo Mycobacterium leprae é eliminado pelo aparelho respiratório da pessoa doente na forma de aerossol durante o ato de falar, espirrar ou tossir.
A contaminação se faz por via respiratória, pelas secreções nasais ou pela saliva, mas é muito pouco provável a cada contato. A incubação, excepcionalmente longa (vários anos), explica por que a doença se desenvolve mais comumente em indivíduos adultos, apesar de que crianças também podem ser contaminadas (a alta prevalência de lepra em crianças é indicativo de um alto índice da doença em uma região).
Noventa por cento (90%) da população tem resistência ao bacilo de Hansen (M. leprae), causador da lepra, e conseguem controlar a infecção. As formas contagiantes são a virchowiana e a dimorfa.
Nem toda pessoa exposta ao bacilo desenvolve a doença, apenas 5%. Acredita-se que isto deva-se a múltiplos fatores, incluindo a genética individual.Indivíduos em tratamento ou já curados não transmitem mais a lepra.

Progressão e sintomas

O tempo de incubação após a infecção é longo, de 2 a 20 anos.

Um dos primeiros efeitos da lepra, devido ao acometimento dos nervos, é a supressão da sensação térmica, ou seja, a incapacidade de diferenciar entre o frio e o calor no local afetado. Mais tardiamente pode evoluir para diminuição da sensação de dor no local.

Perna com lesões de lepra

A lepra indeterminada é a forma inicial da doença, e consiste na maioria dos casos em manchas de coloração mais clara que a pele ao redor, podendo ser discretamente avermelhada, com alteração de sensibilidade à temperatura, e, eventualmente, diminuição da sudorese sobre a mancha (anidrose). A partir do estado inicial, a lepra pode então permanecer estável (o que acontece na maior parte dos casos) ou pode evoluir para lepra tuberculóide ou lepromatosa, dependendo da predisposição genética particular de cada paciente. A lepra pode adotar também vários cursos intermediários entre estes dois tipos de lepra, sendo então denominada lepra dimorfa.

Lepra tuberculóide


Esta forma de lepra ocorre em pacientes que têm boa resposta imunitária ao bacilo de Hansen.
O sistema imune consegue conter a disseminação do bacilo através da formação de agrupamentos de macrófagos, agrupamentos estes denominados "granulomas".
Neste tipo de lepra, as manchas são bem delimitadas e assimétricas, e geralmente são encontradas apenas poucas lesões no corpo.
É a segunda fase da doença e afeta a quem tem mais resistência ao bacilo.
Lepra lepromatosa (ou lepra virchowiana)


É a forma mais insidiosa e lenta da doença, e ocorre nos casos em que os pacientes têm pouca defesa imunitária contra o bacilo.
As lesões cutâneas são lepromas ou hansenomas (nódulos infiltrados), numerosas, afetando todo o corpo, particularmente o rosto, com o nariz apresentando coriza e congestão nasal.
Diagnóstico

O diagnóstico é clínico-epidemiológico e laboratorial. Em uma região do país em que a lepra é endêmica, quando não se dispõe de recursos laboratoriais, o diagnóstico é clínico (pelos sintomas).
Com o auxílio de laboratório faz-se biópsia da lesão e colhe-se a linfa cutânea dos lóbulos das orelhas e dos cotovelos (baciloscopia).
Procura-se o BAAR (Bacilo Álcool Ácido Resistente), a micobactéria, com a técnica de Ziehl-Neelsen. Apesar de os resultados da baciloscopia e da biopsia darem negativos para a presença do M. leprae (nos casos mais puxados para o polo tuberculóide quase não há bacilos - eles foram destruídos pelo sistema imune), estes exames continuam sendo realizados pelo direcionamento que podem dar ao tratamento da doença: multibacilar ou paucibacilar.

Tratamento

Hoje em dia, a lepra é tratada com antibióticos, e esforços de Saúde Pública são feitos para o diagnóstico precoce e tratamento dos doentes, além de próteses de pacientes curados e que tiveram deformações e para a prevenção voltada principalmente para evitar a disseminação.
Apesar de não mortal, a lepra pode acarretar invalidez severa e/ou permanente se não for tratada a tempo. O tratamento comporta diversos antibióticos, a fim de evitar selecionar as bactérias resistentes do germe. A OMS recomenda desde 1981 uma poliquimioterapia (PQT) composta de três medicamentos: a dapsona, a rifampicina e a clofazimina. Essa associação destrói o agente patogênico e cura o paciente. O tempo de tratamento oscila entre 6 e 24 meses, de acordo com a gravidade da doença.
Quando as lesões já estão constituídas, o tratamento se baseia, além da poliquimioterapia, em próteses, em intervenções ortopédicas, em calçados especiais, etc. Além disso, uma grande contribuição à prevenção e ao tratamento das incapacidades causadas pela lepra é a fisioterapia. No Brasil o termo lepra foi substituído por Hanseníase, devido à discriminação sofrida pelos pacientes.
Ainda no Brasil, há a ONG MORHAN (Movimento de Reintegração das pessoas atingidas pela lepra) que faz um trabalho contra o preconceito e ajuda aos portadores da doença.

Indenização às vítimas no Brasil

De acordo com o decreto federal 6.168, de 24 de julho de 2007[3], os pacientes internados compulsoriamente e isolados em hospitais colônias de todo o País, até o ano de 1986, terão direito à pensão vitalícia mensal no valor de R$ 750. Para receber o benefício, os pacientes precisam apresentar documentos que comprovem a internação compulsória e preencher um requerimento de pensão especial[4].

Talidomida

Malformações congênitas devido ao uso de Talidomida pelas mães no período gestacional resultavam em crianças nascidas com membros atrofiados, especialmente os membros superiores. Muitas dessas malformações foram correlacionadas ao uso do medicamento Talidomida durante a gravidez por mães portadoras de lepra como forma de aliviar os sintomas dolorosos da doença. Considerando que o Brasil possui um dos maiores contingentes de pessoas afetadas pela lepra, combinado com alguns casos recentes de crianças nascidas com membros atrofiados, há suspeitas de que a Talidomida, removida de prescrições médicas desde 1961, possa estar sendo utilizada atualmente no Brasil[5][6].

Eunice Weaver

Eunice Sousa Gabi Weaver (São Manuel, 19 de Setembro de 19029 de Dezembro de 1969) foi uma brasileira que se dedicou aos cuidados aos hansenianos.

Biografia

Nasceu em uma fazenda de café no interior do estado de São Paulo, filha de Henrique Gabbi, um carpinteiro natural de Reggio Emilia (Itália) e de Leopoldina Gabbi, natural de Piracicaba, mas descendente de imigrantes suíços, tendo recebido educação austera. Sendo sua mãe portadora de hanseníase, quando Eunice tinha três anos de idade, a sua família mudou-se para Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Ali fez os seus estudos primários, no Colégio União.
Tendo prosseguido os seus estudos em São Paulo, formou-se na Escola Normal e fez o curso de Educação Sanitária. Certo dia de 1927, em visita a uma família amiga, reencontrou o seu antigo professor e diretor do Colégio União - Charles Anderson Weaver. Viúvo, casaram-se seis meses depois, tendo ido residir em Juiz de Fora. Embora o casal não tendo tido filhos, Eunice cuidou dos quatro filhos do primeiro casamento do marido.
Um ano mais tarde, o seu marido foi convidado pela Universidade de Nova Iorque, a dirigir a Universidade Flutuante da América do Norte, instalada num transatlântico, que faria uma viagem ao redor do mundo para melhor formação de seus alunos. Tendo aceite o convite, partiu do Rio de Janeiro acompanhado pela esposa, que aproveitou para estudar Jornalismo, Sociologia, Serviço Social e Filosofias Orientais, em visita a 42 países. Durante essa viagem, viveu por um dia num templo budista, foi até ao Himalaia no lombo de um jumento e entrevistou durante quatro horas o Mahatma Ghandi, de quem recordava: "Foi o homem mais próximo de Jesus Cristo que conheci". Por onde passou, interessou-se pelo problema da hanseníase - nomeadamente nas ilhas Sandwich, no Japão, na China, na Índia e no Egito.
De volta ao Brasil, fundou em Juiz de Fora a Sociedade de Assistência aos Lázaros. De madrugada, quando o passava o trem para Belo Horizonte, dirigia-se à estação ferroviária a fim de prestar assistência aos hansenianos que eram transportados no vagão da segunda classe, ao leprosário Santa Isabel naquela cidade. Ali oferecia-lhes roupas, cobertores e refeições.
Fundou o Educandário Carlos Chagas em Juiz de Fora (1932), e o Educandário Santa Maria, no Rio de Janeiro.
Em 1935, obteve do então presidente da República, Getúlio Vargas a promessa de auxílio oficial para a obra, no montante do dobro do que ela conseguisse arrecadar junto à sociedade civil. Com esse acordo, Eunice dedicou-se a viajar por todo o país, divulgando a campanha da Federação das Sociedades de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra.
Foi a primeira mulher a receber, no país, a Ordem Nacional do Mérito, no grau de Comendador (Novembro de 1950), e a primeira pessoa, na América do Sul, a receber o troféu Damien-Dutton. Publicou a "Vida de Florence Nightingale", "A Enfermeira" e "A História Maravilhosa da Vida". Representou o Brasil em inúmeros congressos internacionais sobre a hanseníase, tendo organizado serviços assistenciais no Paraguai, em Cuba, no México, na Guatemala, na Costa Rica e na Venezuela.
Foi homenageada com o título de "Cidadã Carioca" ao completar 25 anos na direção da Federação (1960) e com o título de "Cidadã Honorária de Juiz de Fora" (11 de Setembro de 1965). Foi a delegada brasileira no 12º Congresso Mundial da Organização das Nações Unidas (Outubro de 1967). Em diversos estados do Brasil, instituições de assistência aos hansenianos levam o nome de "Sociedade Eunice Weaver".
Faleceu súbitamente em viagem de retorno do Rio Grande do Sul. O seu corpo encontra-se sepultado, ao lado do do marido, no Cemitério dos Ingleses, no Rio de Janeiro.

Estudo e pesquisa à cargo de
Hiram Ribeiro dos Santos
1º Secretário do R C Campina Grande

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